Lesão por pressão: o que é e como evitar escaras na pele

Prevenção e Controle

30/03/2022

Atualizado em 14/04/2023

Pessoas acamadas ou com mobilidade reduzida podem sofrer com a chamada lesão por pressão. Saiba o que são as escaras na pele e como evitá-las.

7 min de leitura

Lesão por pressão: o que é e como evitar escaras na pele

Evitar e minimizar ferimentos oriundos da permanência por longo período na mesma posição, a chamada lesão por pressão, é uma forma de dar mais qualidade de vida às pessoas acamadas ou com mobilidade reduzida. Esse tipo de lesão é relativamente comum, mas deve ser tratado com atenção.

Fornecer segurança e cuidados com a pele do paciente acamado, inclusive, faz parte da legislação brasileira. Este protocolo está previsto no Programa Nacional de Segurança do Paciente, instituído pela Portaria 529/2013 do Ministério da Saúde.

Para tratar dessa questão e trazer mais detalhes a respeito, a enfermeira estomaterapeuta Vanessa Fernandes, da Unimed-BH, participa do primeiro episódio da websérie Saber Pra Cuidar, disponível no canal do portal Viver Bem, no YouTube.

Vanessa traz uma série de explicações sobre as escaras, em quais situações as lesões por pressão são mais comuns, qual é o tratamento e dicas de prevenção. Assista ao vídeo ou, se preferir, leia o artigo abaixo.

O que é lesão por pressão e quando pode surgir?

Também conhecidas como lesões de decúbito ou úlceras de pressão, são lesões ocasionadas pela interrupção da circulação sanguínea em determinada parte do corpo, por pressão ou fricção constante da pele ou tecidos moles subjacentes.

Algumas situações favorecem o surgimento da lesão por pressão. Geralmente, ela surge em pacientes acamados, pessoas com mobilidade reduzida ou que passam muito tempo na mesma posição.

As úlceras de pressão também podem acometer pessoas que possuem déficit na percepção sensorial. Nesse caso, a pressão é gerada, mas elas não conseguem sentir a dor causada pela interrupção do fluxo sanguíneo e retirar o membro ou a parte do corpo daquele local.

Dispositivos médicos aplicados incorretamente também podem gerar uma pressão na pele e causar lesões, muitas vezes na forma do dispositivo. Alguns exemplos são cateteres, sondas e tubos.

O que causa a lesão por pressão?

Como o próprio nome diz, ela é causada por uma pressão sobre uma superfície em conjunto com o cisalhamento — quando a gravidade puxa o paciente para baixo, mas sua pele continua estática — e a fricção.

Normalmente, as lesões surgem nas áreas de proeminências ósseas, onde ficam as tuberosidades ósseas. As principais regiões são os calcâneos, a região sacral e as trocantéricas, parte de cima do osso do fêmur.

A lesão de decúbito também pode acometer as partes de trás da cabeça, as escápulas ou o local em que está instalado o dispositivo médico. Ela pode surgir por uma pressão prolongada ou intensa — quando uma lesão é gerada em até 30 minutos.

Quais são os sintomas de lesão por pressão?

Quanto mais dura a superfície, menos tempo é necessário para a formação da lesão por pressão. Do mesmo modo, quanto mais tempo a pessoa passa na mesma posição, maior é a chance de desenvolver escaras na pele.

Uma das formas de diagnosticar a lesão de decúbito é verificar a pele e procurar áreas de vermelhidão. Se a região não embranquecer ao pressionar os dedos no local, o paciente apresenta uma pressão de estágio 1 —esta técnica é chamada de digitopressão. Também é aconselhável comparar a mesma área do lado oposto do corpo.

Quando essas feridas se aprofundam e não são tratadas, há riscos de evoluírem e se tornarem cada vez mais graves, podendo causar:

  • Necrose dos tecidos;
  • Trombose;
  • Osteomielite (infecção óssea);
  • Dor;
  • Agravamento do quadro clínico;
  • Mais tempo de internação;
  • Risco de infecções;
  • Risco de amputação e morte.

Em pacientes com menos sensibilidade na pele, a lesão por pressão pode surgir e se aprofundar rapidamente, sem que ele perceba.

Como identificar o grau da lesão por pressão?

Conheça a escala de evolução da úlcera de pressão:

Estágio 1

No estágio 1, o paciente apresenta uma pele íntegra, mas com um edema não branqueado. A vermelhidão permanece mesmo com a digitopressão e com a mudança na posição do corpo.

Estágio 2

Nesta fase, o paciente apresenta perda parcial da pele e a exposição de um tecido rosa ou avermelhado. Além disso, a lesão por pressão pode surgir como uma bolha com um líquido dentro ou uma bolha rompida.

Estágio 3

Neste grau de evolução, a lesão de decúbito é mais profunda e causa a perda total da pele e a exposição do tecido adiposo, de gordura. Aqui, o paciente pode apresentar epibolia (bordas enroladas), túneis e cavitações.

Estágio 4

É quando a pele e até mesmo músculos podem ser destruídos, deixando articulações, tendões e ossos expostos. Esse estágio é muito perigoso, pois pode necessitar de intervenção cirúrgica de debridamento para eliminar os tecidos infectados e mortos, além de transplante de pele para ajudar no fechamento da ferida.

Deixar a doença chegar nesse estágio, que pode evoluir para uma osteomielite, uma infecção óssea causada por bactérias provenientes das escaras, implica em complicações graves e o tratamento fica mais difícil para cuidar das lesões na pele.

Outras lesões

Também existem as lesões não classificáveis, como as que aparecem nas membranas mucosas. Já as lesões por pressão estarão cobertas por necroses ou esfacelos — tecido desvitalizado de cor amarelada. Geralmente, elas já estão no estágio 3 ou 4.

Escaras: como evitar e prevenir as feridas

É possível se antecipar e saber quais áreas do corpo do paciente estarão mais suscetíveis ao surgimento das escaras. Desta forma, os cuidados devem ser redobrados nestas áreas, a fim de aliviar a pressão com uma frequência maior.

Por exemplo, pessoas em cadeiras de rodas têm maior tendência a desenvolver lesões na área da pélvis, na região dos ossos dos quadris e glúteos. Já as pessoas acamadas podem ter ferimentos e manchas vermelhas nas costas, cotovelos, nádegas, calcanhares, quadris.

As áreas mais afetadas pelas lesões por pressão variam de acordo com a posição em que o paciente passa mais tempo. Com pequenas ações, é possível evitar as escaras. Siga lendo o texto para ver essas dicas abaixo.

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Lesão por pressão: o que é e como evitar escaras na pele

5 cuidados com a pele do paciente

É possível evitar o agravamento e até mesmo prevenir o surgimento das lesões por pressão com algumas medidas que trazem mais conforto e segurança ao paciente. O tratamento e a prevenção das lesões andam juntos. Veja alguns exemplos:

1. Higienização correta

Pessoas acamadas, especialmente idosas, que já têm a pele naturalmente mais fina, devem estar sempre limpas e hidratadas, não só para evitar as escaras, mas também outras dermatites e infecção urinária.

É preciso higienizar o paciente com cuidado para não esfregar a pele e não correr o risco de causar mais atritos que podem originar a lesão por pressão. Além de limpa, a pele também deve estar sempre seca.

Caso o paciente faça uso de fraldas, é necessário que ela seja trocada sempre que estiver com urina ou fezes. Cremes ou sprays de barreira são indicados para prevenir as lesões.

Dica: A pele do paciente deve estar sempre hidratada. A hidratação fará com que ela fique mais elástica e deve ser feita pelo menos uma vez por dia.

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2. Posição do paciente

É preciso trocar de posição o acamado ou pessoa com mobilidade reduzida a cada duas horas, pelo menos, para evitar a pressão constante em determinados pontos da pele. Já no caso dos cadeirantes, a frequência deve ser maior, a cada 15 minutos.

Dessa forma, é importante estimular a movimentação do paciente, respeitando suas mobilidades físicas e motoras. Fazer o reposicionamento frequente é muito importante.

É bom lembrar que, ao reposicionar o paciente, deve-se utilizar equipamentos e roupas de cama para levantar o acamado, evitando arrastá-lo para evitar o atrito.

3. Colchão para evitar lesão por pressão

Os melhores colchões para aliviar a pressão nas áreas mais proeminentes do corpo são o colchão pneumático, de água, de gel de silicone ou de ar. Antes de comprar o colchão para este fim, consulte o médico e peça recomendações.

4. Almofada antiescaras

Para dar mais conforto ao paciente, é indicado o uso de almofadas de proteção para aliviar a pressão. Há modelos no mercado específicos para isso, como as almofadas anatômicas e de gel. Também neste caso, a dica é pedir recomendações ao médico.

5. Roupa de cama

Providencie a troca frequente da roupa de cama, e opte por lençóis, fronhas e cobertas de tecido orgânico, como o algodão. Lembre-se de deixar o lençol bem esticado e sem dobras, para evitar a fricção com a pele.

Além desses cuidados com a pele do acamado, é importante também examinar o paciente diariamente para verificar se há vermelhidão nas áreas de pressão na pele.

Se identificar algum sinal do início de uma lesão por pressão, mude a pessoa de posição ou alivie estes pontos de compressão até que a vermelhidão desapareça.

A importância da alimentação na prevenção e no tratamento

Nutrientes e vitaminas presentes na alimentação podem ajudar na prevenção e no tratamento das escaras, além de suplementos orais que também auxiliam na cicatrização das lesões. Uma nutrição insuficiente de vitaminas e minerais pode acarretar quedas, reduzindo a mobilidade, uma das causas de lesão por pressão.

Uma alimentação rica em proteínas ajuda na recuperação da lesão. Dessa forma, é importante incluir carnes, frangos, peixes e ovos na dieta do acamado. Outras vitaminas e minerais com funções antioxidantes e anti-inflamatórias são fundamentais na cicatrização.

Outra forma de auxiliar no tratamento das escaras é com suplementação, que favorece o fechamento das feridas. O suplemento pode ser receitado pelo médico ou pelo nutricionista.

Os suplementos devem ter fórmula hiperproteica, contendo arginina e micronutrientes associados à cicatrização, como zinco, selênio, vitaminas A, C e E. Em forma de bebidas, é importante que o produto tenha sabor agradável para ser incluído no dia a dia do paciente.

A nutrição tem extrema importância na prevenção à lesão por pressão. É indicada a introdução de uma dieta hiperproteica e hipercalórica e é fundamental que o paciente consuma toda a quantidade ofertada na hora de se alimentar.

Existem diagnósticos em que o paciente não poderá manter uma dieta hiperproteica e hipercalórica porque sua condição clínica pode ser comprometida. O mais indicado é que um médico ou nutricionista prescreva a dieta mais adequada para o caso.

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Como tratar escaras?

Para saber como cuidar de úlcera de pressão, é preciso identificar o estágio de evolução em que o ferimento se encontra. Os graus mais superficiais do ferimento acabam se curando naturalmente desde que a pressão nas áreas afetadas seja interrompida.

Há casos, no entanto, que podem demandar curativos especiais e uso de medicamentos indicados pelo médico, como antibióticos.

Já os casos mais graves, geralmente quando a escara atinge o estágio 4, podem precisar de intervenções cirúrgicas para eliminar os tecidos mortos e infectados, ou até mesmo um transplante de pele.

Em muitos casos, pessoas idosas são os principais alvos da úlcera de pressão por passarem mais tempo na mesma posição, já que muitos têm mobilidade reduzida ou estão acamados.

Após o diagnóstico da lesão por pressão, o tratamento deve ser iniciado. Em primeiro lugar, é primordial que as medidas de prevenção sejam mantidas para que novas lesões não surjam e o ferimento cicatrize o mais rápido possível.

A escolha do curativo será realizada de acordo com o tipo de tecido apresentado na lesão e o estágio em que ela se encontra. É fundamental ficar atento à saturação do curativo (sujidade ou perda do curativo por secreções).

Nesse caso, é necessário refazê-lo.

Caso o paciente faça o uso de fraldas, é muito importante verificar o curativo no momento de trocá-la. A contaminação por fezes e urina também faz com que o curativo esteja saturado.

Para a eficácia do tratamento, também é primordial a mudança de decúbito e o paciente deve ser reposicionado a cada duas horas. O alívio de pressão na área atingida deve ser mantido — almofadas, colchões e travesseiros são indicados.

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